terça-feira, 19 de setembro de 2023

POBREZA E RELIGIÃO ANDAM JUNTAS

 

POBREZA E RELIGIÃO ANDAM JUNTAS

População de países que têm bons serviços públicos é menos religiosa. Um novo estudo confirma que a população de países que oferecem bons serviços públicos tende a se apoiar menos na religião.

Os autores do estudo, Miron Zuckerman e Chen Li, da Universidade de Rochester, e Ed Diener, das universidades de Utah e Virgínia, constataram que o “fascínio pela religião diminui” à medida que as pessoas passam a ter bom atendimento de saúde e educação e um eficaz serviço de segurança.

É por isso que países europeus, Estados Unidos e Canadá estão se secularizando mais rápido do que a África e América Latina, onde, inclusive, tem se registrado um avanço da Igreja Católica e de igrejas evangélicas, respectivamente.

O Brasil é um exemplo: as religiões se mantém firmes em uma realidade de infraestrutura social precária, com hospitais lotados, educação de baixa qualidade e índices de criminalidade em ascensão.

Ainda assim, no Brasil, tem aumento o número de pessoas sem religião, mas a taxa de quem acredita em Deus continua elevada, porque muita gente continua crendo que as soluções de seus problemas possam cair do céu, por intermédio de orações (1).

No Brasil a teologia da prosperidade tem sido o fator principal do crescimento das igrejas neopentecostais e em outras crenças os intermediários, intercessores conectados com as práticas místicas, mágicas, sacrificiais de votos, promessas, passes, correntes e doações econômicas pela posse de bênção, cura, milagres, exorcismo e prosperidade. Há uma elite religiosa milionária nos pais em detrimento da ignorância de um povo sofrido e pobre.

Mais pobres, mais religiosas

Pesquisa feita pelo Instituto Gallup revela que as pessoas dos países mais pobres – como Bangladesh, Níger, Iêmen e Indonésia, com renda per capita equivalente até R$ 3.396 – são as mais religiosas. Do total da população desses países, 95% afirmaram que as crenças são importantes para a sua vida. Da população dos países mais ricos, como Estônia, Suécia e Dinamarca, 47% dão alguma importância às crenças religiosas.

A pesquisa foi feita em 2009 em 114 países, e seus resultados agora divulgados. Em cada país, foram entrevistadas 1.000 pessoas adultas. Os resultados confirmam pesquisas anteriores do próprio Gallup e de outros institutos.

Uma das explicações dessa diferença de religiosidade entre países pobres e ricos é a de que onde há mais injustiça social a população tende a acreditar que seus problemas serão resolvidos com a ajuda divina, já que o governo (o Estado) não cumpre a sua função. É o que explica, também, o crescimento no Brasil das seitas neopentecostais, como a Igreja Universal e a Mundial, que pregam a teologia da prosperidade.

A renda per capita brasileira é alta, mas aqui as desigualdades sociais são enormes, mesmo tendo havido avanços na distribuição de renda nos últimos anos.

O sociólogo americano Phil Zuckerman, ao comentar uma sua pesquisa, afirmou que o Brasil, pais de forte religiosidade, tem elevada taxa de pobreza, de corrupção política e de criminalidade, além de um sistema público de saúde que não consegue dar atendimento digno à população (2).

O Brasil é considerado a maior nação católica do mundo, como também o maior país pentecostal e espírita do planeta. É a nação do carnaval, das novelas, do futebol, da operação lava-jato, do jeitinho leva-gato, do crack, da depressão e de assassinatos. Temos muitas religiões, crendices, esoterismo, satanismo e juntos: muita desgraça, preconceitos, discriminação, violência, corrupção, desigualdade social e muita desunião e disputa no mercado religioso. O maior escândalo é a falta de caridade e de comunhão causado pelos cismas.

A divisão religiosa revela ambição de poder, a ganância financeira, culto à personalidade e a espetacularização de suas celebrações; por outro lado revela também a alma dividida, interioridade doentia, crise existencial profunda, ditadura implacável e nos bastidores uma vida de luxúria. E os fiéis na sua fé inocente e na esperança de alcançar toda sorte de bênção doam dízimos e ofertas sem nunca saberem que sustentam a liderança com seu império religioso capitalista.

Dr. Inácio José do Vale

Professor e conferencista

Psicanalista Clínico, PhD

Sociólogo em Ciência da Religião

Doutor em História do Cristianismo

Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea/RJ. Membro da Ordem Nacional dos Psicanalistas/RJ.

 

Fontes:

(1)https://www.paulopes.com.br/2018/04/populacao-de-paises-que-tem-bons-servicos-eh-menos-religiosa.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+Paulopes+(Paulopes)#.Wt76Bi7wbIU

(2)https://www.paulopes.com.br/2010/12/pessoas-dos-mais-paises-pobres-sao-mais.html#.Wt7-ay7wbIU

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