segunda-feira, 18 de setembro de 2023

FENÔMENO RELIGISO: DESAFIOS

 

Desafios do fenômeno religioso ao mundo contemporâneo

A jornalista Cândida Pinto abre no dia de 18 de março, em Oeiras, Portugal o curso “Desafios do fenômeno religioso ao mundo contemporâneo”.

Diz ela: “Nunca como hoje a religião nos surgiu nos meios de comunicação com uma urgência que define o futuro, como um imperativo que nos remete para os valores de civilização. Entre realidade, representações e medos, os tempos que vivemos remetem para o fenómeno religioso as bipolaridades de uma sociedade que se encontra perante grandes definições da sua própria identidade” (1).

A intolerância, perseguição, crueldade e assassinatos, infelizmente, é um escândalo para o sistema religioso. Todos os países com suas respectivas crenças não podem se omitir e nem se justificar pelos atos cometidos em nome da fé e de Deus. Não é honesto e nem tão pouco ético ocultar os acontecimentos em suas nações, conectadas com suas confissões religiosas e acusar de maneira vergonhosa outros países e sua religião. Lendo  criteriosamente a história, todos necessitam de um profundo pedido de perdão e viver radicalmente o amor e o respeito pela dignidade da pessoa humana.


Pensar fenômeno religioso do mundo contemporâneo é associar o seu espaço com o apogeu da ciência e da tecnologia em prol da paz religiosa, da justiça social e da fraternidade universal. Aceitabilidade do sagrado é a continuidade da gloriosa liberdade da expressão e de culto em nossa era ecumênica e de diálogo inter-religioso. Os desafios são trabalhados dentro desse contexto para o bem da humanidade. A tradição da força da fé, o fator mistério  e o poder da graça solidificam a bondade humana pela causa caridosa de todos.


Mircea Eliade


Decerto não podia imaginar, quando lhe foi publicado o primeiro artigo, aos 13 anos, uma narrativa científica sobre o tema “Como descobri a pedra filosofal”, redigida para um concurso aberto aos alunos do ensino secundário da Roménia, que a investigação de toda a sua existência o iria conduzir a percursos que tocariam matéria e espírito, alma e corpo no homem de todos os tempos e latitudes.


Falamos de Mircea Eliade, o grande historiador das religiões nascido em Bucareste a 13 de março de 1907. Com apenas 20 anos foi estudar três anos na Índia, para depois regressar à pátria, impondo-se primeiro como escritor e depois como professor de Filosofia e História das Religiões, disciplina que haveria de lecionar a partir de 1945 na Sorbonne, em Paris, e em muitas outras universidades europeias, antes de se fixar no ano de 1957 em Chicago, onde viveria até 1986, ano da sua morte.


Para Eliade a história das religiões não é uma disciplina menor, uma escrava da filosofia ou das ciências humanas, porque investe naquilo que é humano por excelência, ou seja, a relação do homem com o sagrado. Eis o que escreve no seu Diário, em 1959: “Se é verdade que Marx analisou e desmascarou a inconsciência social e que Freud fez o mesmo para a inconsciência pessoal, se portanto é verdade que psicanálise e marxismo nos ensinam a maneira de passar para lá das superestruturas para chegar às causas e às motivações verdadeiras, nesse caso a história das religiões teria o mesmo fim: identificar a presença do transcendente na experiência humana, isolar no interior da enorme massa do inconsciente aquilo que é trans-consciente (...), desmascarar a presença do transcendente e o supra-histórico na vida de todos os dias”.


No seu esforço interpretativo, Eliade analisa com severidade a crueldade de que civilizações e religiões foram capazes e com frequência coloca-a em relação com fenómenos contemporâneos. Como quando releva que para os astecas o sacrifício humano tinha um sentido preciso: o sangue das vítimas alimentava e fortificava o deus-sol. Não muito diferente foi à atitude das SS nazistas, para as quais o aniquilamento de milhões de homens nos campos de extermínio tinha um sentido escatológico: acreditavam representar o Bem contra o Mal.


E o mesmo fenômeno volta a ser proposto com os "gulag" e a ideologia comunista, que se encontra diante de inimigos que constituem um obstáculo para o triunfo do Bem e por isso quer eliminá-los. O que inquieta Eliade é “o terror da história: a experiência de um homem que deixou de ser religioso, que por isso já não tem qualquer esperança de encontrar um significado último no drama histórico e que deve sofrer os crimes da história sem lhes compreender o sentido. Um israelita prisioneiro na Babilónia sofria enormemente, mas esse sofrimento tinha um sentido”.


“Com o pensamento dirigido para o futuro, o historiador das religiões deve decifrar a camuflagem do sagrado no mundo dessacralizado em que hoje estamos imersos. Palavras severas mas não privadas de esperança estão reservadas ao cristianismo e à Igreja católica em particular, naqueles anos ainda imersa em convulsões e polémicas. Ele toma consciência da crise (“não só crise de autoridade, mas das antigas estruturas, litúrgicas e teológicas”) mas não lhe prevê o fim: “Parece-me tratar-se de uma crise criativa e que, após provações e controvérsias, algumas coisas mais interessantes, mas vivas, mais significativas, poderão vir à luz”, escreve o editor de Cultura em chefe do jornal "Avvenire", Roberto Righetto (2).


O pensamento de Mircea Eliade permite que o ser humano pós-moderno tivesse uma visão mais lúcida e ampla sobre o comportamento humano no que se refere à religiosidade, do ponto de vista de sua dimensão histórica e sob a inspiração do contexto cultural particularmente vinculado ao sagrado. A sua reflexão se baseia acima de tudo no universalismo do fenômeno religioso. Daí ser possível encontrar em sua obra o fundamento epistemomológico para a necessidade contemporânea de uma conexão  macro ecumênica.


Frei Inácio José do Vale

Notas:

(1)http://snpcultura.org/curso_aprofunda_desafios_do_fenomeno_religioso.html

(2)http://snpcultura.org/quando_o_sofrimento_perde_sentido.html

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