segunda-feira, 18 de setembro de 2023

ECCE HOMO

 

ECCE HOMO

É notório que, nesse homem Jesus Cristo torturado, vemos sinais inquestionáveis de sofrimento.

Os olhos da fé enxergam nele o homem por excelência, aquele que foi apresentado pela arrepiante frase “Ecce Homo”, “Eis o homem”; aquele que foi visto manso e majestoso diante de Pilatos, mas que sofreu terrível flagelação, espancamentos, coroação de espinhos, subida ao Calvário carregando aos ombros a própria cruz, crucificação como inocente e morte pela nossa redenção.


“No Sudário eu contei 370 feridas de açoites, sem considerar as laterais, que o pano não revela porque envolveu apenas a parte anterior e a posterior do corpo. Mas podemos supor pelo menos 600 golpes. Além disso, a reconstrução tridimensional permitiu observar que, na hora da morte, o Homem do Sudário pendeu para a direita, porque o ombro direito foi deslocado de modo tão grave que lesou os nervos” (cf. Il Mattino di Padova). Quem afirma é Giulio Fanti, professor de medições mecânicas e térmicas na Universidade de Pádua e estudioso do Sudário, uma das mais enigmáticas e apaixonantes do mundo cristão (e também do mundo incrédulo).


A dor como mestra


“O homem é um aprendiz, a dor o seu mestre:/ ninguém se conhece a si próprio até que sofra”. Dia de dor, a Sexta-feira Santa parece reassumir em si todo o sofrimento do mundo.


O Cristo crucificado é o emblema de um tormento universal que faz olhar para Ele crentes e ateus, como dizia o escritor italiano Alfredo Oriani (1852-1909): “Crentes ou incrédulos, ninguém sabe subtrair-se ao encanto dessa figura, nenhuma dor renunciou sinceramente ao fascínio da sua promessa”.


A dor é uma espécie de mestre que nos purifica da banalidade, da estupidez, da superficialidade, reenviando-nos para a interioridade, para as realidades que verdadeiramente contam, para a consciência, para o sentido da vida.


Esopo, o grande pensador grego e célebre contador de fábulas, cunhou um jogo de palavras, "pathèmata-mathèmata", «os sofrimentos são ensinamentos». Reencontremos, então, a capacidade de atravessar o território tenebroso da provação não com o desespero no coração, mas com a expetativa de uma aurora.


Escreve Dom Gianfranco Ravasi, cardeal italiano e presidente do Pontifício Conselho para a Cultura no Vaticano: “Também Cristo, apesar de gritar a sua extrema desolação (“meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”), no fim aplaca-se na confiança: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Será ainda o mesmo Alfred Musset (1810-1857) poeta, novelista e dramaturgo francês, a escrever: “Nada nos torna tão grandes como uma grande dor”.


Não há dúvida, existe um grande mistério na dor! Do nascimento a morte ela é a nossa íntima companheira. De maneira enigmática a dor contribui pedagogicamente para profundas lições da nossa vida. Resta tão somente à maravilhosa graça do bom Deus para nos confortar de forma imensurável.


Jamais o nosso sofrimento será igual do que passou Nosso Senhor Jesus Cristo, também jamais podemos desejar e causar tamanho sofrimento ao nosso semelhante. “Eis o Homem”, “eis aí seu amor como dádiva suprema para nossa caridade em prol de todos”!


Frei Inácio José do Vale


Professor e Conferencista


Sociólogo em Ciência da Religião


Fraternidade do Bem-aventurado Charles de Foucauld

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