domingo, 17 de setembro de 2023

INFANTICÍDIO

Infanticídio: O que leva um pai a matar seu próprio filho?


“Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos..."sem querer"”.


Sigmund Freud(1856-1939)


Psiquiatra austríaco e criador da psicanálise



Segundo o pai da psicanálise Dr. Freud, o Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância e dá-se então conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. O conceito foi descrito e recebeu a designação de complexo por Jung, que desenvolveu semelhantemente o conceito de complexo de Electra. Freud baseou-se na tragédia de Sófocles, Édipo Rei, chamando Complexo de Édipo à preferência velada do filho pela mãe, acompanhada de uma aversão clara pelo pai. Na peça (e na mitologia grega), Édipo matou seu pai Laio e desposou a própria mãe, Jocasta. Após descobrir que Jocasta era sua mãe, Édipo fura os seus olhos e Jocasta comete suicídio.


Freud baseou-se na tragédia de Sófocles (496–406 a.C.), Édipo Rei, uma trilogia que trata, em partes, da vida de Édipo.


Produções modernas da peça de Sófocles estavam sendo encenadas em Paris e Viena, no século 19 e tiveram um sucesso fenomenal na década de 1880 e 1890. O psiquiatra austríaco Sigmund Freud em seu livro A Interpretação dos Sonhos, publicado pela primeira vez em 1899, propôs que um desejo edipiano é um fenômeno universal psicológico inato (filogenético) dos seres humanos e a causa de grande culpa inconsciente. Ele baseou isso em sua análise de seus sentimentos ao assistir à peça, suas observações casuais de crianças neuróticas ou normais e no fato de que a peça Édipo Rei teve sucesso em ambos os públicos, antigo e moderno; ele também afirmou que a peça Hamlet fora eficaz pelo mesmo motivo.


Freud descreveu Édipo como segue: “Seu destino nos move apenas porque poderia ter sido o nosso - porque o oráculo lançou a mesma maldição sobre nós antes do nosso nascimento, como sobre ele. É o destino de todos nós, talvez, dirigir nosso primeiro impulso sexual para nossa mãe e nosso primeiro ódio e nosso primeiro desejo assassino contra nosso pai. Nossos sonhos nos convencem de que isso é assim”. ( Sigmund Freud The Interpretation of Dreams Chapter V "The Material and Sources of Dreams" (New York: Avon Books) p. 296. Harold Bloom. Oedipus Rex - Sophocles: (Updated Edition).. Infobase Publishing; 2009, p. 72).


No mito proposto por Freud (1913), o pai totêmico, por seu poder, parecia-se com um deus; este tudo podia, possuía todas as mulheres, enquanto por outro lado seus filhos sentiam-se oprimidos e privados, não tinham acesso a nada, viviam em completa escuridão se comparados ao pai visto como o poderoso. Alimentados por estes sentimentos, os filhos sentiam ódio pela supressão do pai, mas, ao mesmo tempo, manifestavam profundo amor e admiração além do desejo de ocupar o lugar exercido pelo pai totêmico. Tomados pelo ódio, os filhos assassinam o pai e o devoram, buscando absorver seu poder. O pai que tanto amavam fora morto por eles, então surge à culpa, originando o complexo de Édipo, onde os filhos perceberam o que haviam cometido, e iniciaram a briga entre si para decidir quem ficaria no poder. Uma nova lei foi necessária, já que o totêmico fora morto. Enriquez (1990, p. 34) escreve: “[...] a civilização não somente se inicia com o crime, mas se mantém através dele. Mesmo quando o crime real é suspenso, ele permanece admissível.”.


Em Totem e tabu (1913), Freud caracteriza a horda primitiva como constituída por um pai todo-poderoso e submetedor, da mesma forma que as histórias mitológicas e as diversas fontes encontradas nos mostram os sentimentos hostis presentes atual ou antigamente, e a violência que todo pai exerce sobre seu filho.


Para Freud (1913), esse ato criminoso seria o exórdio da organização social, em função do ocorrido: a ambivalência emocional dos filhos com o pai satisfaz um de seus polos ao assassiná-lo o ódio, e o amor advém sob a forma de remorso e culpa. Para aplacar este sentimento que os filhos interditam a morte do substituto do totem e renunciam às mulheres, instituem o incesto, salvaguardam a organização que os fortaleceu. Freud (1913) afirma que a lei do pai se tornou mais forte e eficaz após seu assassinato, pois foi internalizada por cada membro da horda. O pai morto se torna símbolo de uma proibição, restrição, e abre o sujeito para o desejo do objeto.


A tragédia e todas as formas de incompatibilidades acompanham a humanidade. As modalidades mudam, no entanto, o conteúdo continua na mesma velocidade da internet. Nossa era é marcada profundamente pelo parcial, superficial, artificial, virtual e infernal. O sistema tem construído uma gama de ferramentais para desequilibrar e demolir o ser humano. A família é a peça principal desse esquema. O descartável humano é o lucro do terrorismo capitalista, ou seja, toda miserabilidade tem como fonte o capital e o controle econômico na pessoa como produto e o seu consumismo. Grandioso e tomado de louvores são os psicanalistas, psicólogos e psiquiatras que trabalham na construção da dignidade da pessoa humana. São profissionais que ajudam na saúde: física, emocional e espiritual. A nossa missão é a vida em toda sua plenitude e o nosso trabalho científico é a desconstrução de todo esquema que atentem contra o dom da vida. Temos mecanismos eficazes para solidificar o prazer de viver com sentido de uma vida feliz abissalmente!


Frei Inácio José do Vale 

Referências:


David E. Zimerman. Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise. Artmed; 2008. p. 73–75.

Charles Rycroft. A Critical Dictionary of Psychoanalysis. Penguin Books; 1995.

Joseph Childers; Gary Hentzi. The Columbia Dictionary of Modern Literary and Cultural Criticism. Columbia University Press; 1995.

Mônica Medeiros Kother Macedo. Neurose: leituras psicanalíticas. EDIPUCRS; 2005. p. 85 – 86.

Sigmund Freud The Interpretation of Dreams Chapter V "The Material and Sources of Dreams" (New York: Avon Books) p. 296.

https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/o-lado-obscuro-da-paternidade-pais-que-intencionalmente-matam-seus-filhos 

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