Liberdade e responsabilidade
O cão e o lobo
“Vinha um cão por uma estrada. De súbito, deu de frente com um lobo, que lhe disse:
“— Amigo, estás com uma excelente aparência! Forte, lépido, feliz. Sinto até inveja de ti…
“— É mesmo?! Faze então igual a mim. Consegue um dono bondoso. E terás alimento nas horas certas e serás bem-cuidado. Meu único serviço é, se aparecerem assaltantes, latir à noite. Vem, pois, comigo e ele te dará semelhante tratamento.
“O lobo considerou a proposta muito boa e foi acompanhando o cão no caminho de casa. Até que, a um dado instante, um fato despertou a sua curiosidade.
“— Que é isso pendurado em teu pescoço? Estás machucado?
“— Bem... — respondeu-lhe o cão — é por causa da coleira.
“— Quê?! — espantou-se o lobo…
“— De dia, meu senhor me prende com ela. Não quer que eu apavore as pessoas que o visitam.
“Ouvindo isso, o lobo não quis mais conversa e abandonou o cão no meio do trajeto, todavia não sem antes lhe dizer: — Amigo, esquece tudo, porque não te seguirei mais. Acho melhor viver liberto do que na tua aparente abastança”.
Moral da história
Não há ouro suficiente que valha a liberdade, que, para ser correta, invoca responsabilidade. E, assim, o velho filósofo da Hélade, que era mentalmente livre, embora padecesse a ignomínia da escravidão, legou-nos, entre outros, esse grande preceito. Contam que o senhor do sábio fabulista Esopo, espantado com tamanho saber, lhe deu carta de alforria.
Para os gregos do mundo antigo a ideia de Hélade fazia referência a uma forma compartilhada de entender a vida com sabedoria, liberdade e responsabilidade.
A proposta
“Se na costa do oceano Atlântico, à chegada ao porto de Nova Iorque, os passageiros encontram a estátua da Liberdade, seria maravilhoso poder edificar na costa do oceano Pacífico a estátua da responsabilidade”. A proposta é do psiquiatra e psicanalista austríaco Viktor Frankl (1905-1997), que durante muito tempo viveu nos EUA, na sua obra “O homem em busca de um sentido”.
Viktor Frankl o criador da Logoterapia, na sua profunda experiência, sabia que o sentido da vida é a liberdade com responsabilidade.
O cardeal Dom Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura no Vaticano, escreve: “A liberdade, certamente, é a base para o reconhecimento da dignidade e das capacidades da pessoa. Mas, se é deixada a sós, pode rapidamente enveredar pelo egoísmo e pela prevaricação. Eis, então, a necessidade de exaltar a outra componente humana, igualmente decisiva, a responsabilidade. Ela nasce da consciência e alimenta-se da moral, e está pronta a impor-se autonomamente limites e obrigações, para que a presença da pessoa na sociedade não seja devastadora, mas construtora”.
“A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade”, afirmou o neurologista austríaco e criador da psicanálise Sigmund Freud.
Somos responsáveis por mudanças profundas, da desconstrução do temor para ousadia da revolução de liberdade e responsabilidade em prol da dignidade da pessoa humana.
Dr. A. Inácio José do Vale
Psicanalista Clínico, PhD
Professor de Pós-graduação da Faculdade do Norte do Paraná
Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea/RJ.
Fontes:
https://www.snpcultura.org/liberdade_e_responsabilidade.html
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