sexta-feira, 14 de julho de 2023

CONHECER A NATUREZA HUMANA

CONHECER A NATUREZA HUMANA


Um das principais virtudes da nossa convivência  em sociedade é conhecer a natureza humana.

Dentro desse contexto podemos nos livrar de relacionamentos e negócios malsucedidos. A sabedoria para lidar com o ser humano é a partir do conhecimento da sua natureza. 

A pior infelicidade é não se conhecer. É lógico que sendo boçal de si mesmo é ignorante com os demais.

“Conhece-te a ti mesmo”. Esta era a inscrição na entrada do oráculo de Delfos e também umas das principais mensagens dos diálogos platônicos. Para Sócrates, este conhecimento seria de tamanho valor que valeria a pena dedicar toda sua vida à filosofia. “Conhece-te a ti próprio e conhecerás o universo”, disse Socrátes. 

A maldade e conflito do mundo seriam o resultado da ignorância acerca do Bem. Em Platão existe um grande destaque à reflexão interior e observação de si mesmo. Sem isso, o homem é escravo de seus instintos mais baixos. Mesmo o homem conhecendo o bem ele pratica o mal. Nenhua uma lei é capaz de coibir o homem de executar a sua perversidade.

No que diz respeito à natureza humana, Santo Agostinho considera que o homem é um ser degenerado, decaído e nascido pecador.

Quanto à natureza humana, Nicolau Maquiavel não se ilude: ela é perversa, cruel e traiçoeira, e qualquer um que almeje o poder deve aceitar esse fato. Para não ser traído, o governante deve acreditar que todos são traidores e, antes de ser amado, ele deve ser temido. Sua principal obra, O Príncipe, é fruto de sua experiência como diplomata a serviço da República Florentina.

O filósofo inglês Thomas Hobbes declara que o homem é egoísta e se importa apenas consigo mesmo e com aqueles que lhe são próximos. Como os bens são escassos e difíceis, naturalmente somos levados à situação de “guerra de todos contra todos”, e apenas o contrato social impediria esse conflito. Este contrato social, contudo, é necessário justamente porque o homem é essencialmente egoísta. Em sua obra Leviatã (1651), Hobbes desenvolve toda sua filosofia política baseada nessa ideia pessimista do homem, onde apenas o Estado (ou o monarca, no caso de Hobbes) poderia conter uma situação de violência e conflito que tornaria a vida insuportável. “O homem é lobo do homem, em guerra de todos contra todos”, afirmou Thomas Hobbes.

O pensamento do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. Os aspectos principais que definiram o pensamento social de Rousseau foram: a concepção de que a natureza humana é boa (o que o colocou frontalmente em oposição ao filósofo do século XVI Thomas Hobbes) e de que, derivada dessa concepção, a sociedade é quem a corrompe. A bondade natural do homem seria então, para esse filósofo francês, paulatinamente destruída e corrompida pela civilização.

O filósofo inglês John Locke também afirmava que a mente de uma pessoa ao nascer era uma tábula rasa, ou seja, uma espécie de folha em branco. As experiências que esta pessoa passa pela vida é que vão formando seus conhecimentos e personalidade. Defendia também que todos os seres humanos nascem bons, iguais e independentes. Desta forma é a sociedade a responsável pela formação do indivíduo. Embora defendesse que todos os homens fossem iguais, foi um defensor da escravidão. Não relacionava a escravidão à raça, mas sim aos vencidos na guerra. De acordo com Locke, os inimigos e capturados na guerra poderiam ser mortos, mas como suas vidas são mantidas, devem trocar a liberdade pela escravidão.

Para o filósofo escocês David Hume, também considerava o homem uma tábula rasa, mas aprofundou suas investigações fazendo um estudo detalhado da mente humana. O homem seria apenas um amontoado de sensações desordenadas, sendo a razão incapaz de guiá-lo em suas decisões morais. Para o homem, restaria apenas as noções de prazer e dor para guiar suas ações morais. “O hábito de culpar o presente e admitir o passado, está profundamente arraigado na natureza humana”, disse David Hume.

Hannah Arendt foi uma teórica política judia alemã, uma das maiores pensadoras do século XX, disse: “Eles (os comunistas) não precisavam refutar argumentos adversos: preferiam métodos que terminavam antes em morte do que em persuasão, que espalhavam antes o terror do que a convicção”. Hannah Arendt falou no seu livro “Eichmann em Jerusalém” (1963) com o subtítulo “Relatório sobre a Banalidade do Mal”, decorre da existência real e concreta do Homo Totalitarius que é um fenómeno moderno.

Para o criador da psicanálise, o célebre neurologista austríaco Dr. Sigmund Freud os “impulsos condenáveis e perigosos são justamente os que mais próximos estão da natureza humana”.

Termino com o pensamento do cientista francês Blaise Pascal: “Nada é mais estranho na natureza do homem do que as, contrariedades que nela se descobrem em relação a todas as coisas”. “A verdadeira natureza do homem, o seu verdadeiro bem e a verdadeira virtude e a verdadeira religião são coisas cujo conhecimento é inseparável”. Declarou: “Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa”.

As guerras, a violência, as desigualdades sociais, o tráfico de drogas, a máfia, a corrupção, a exploração religiosa, o tráfico humano, os conflitos étnicos, a criação de doenças e remédios falsos, evidenciam para o mundo pós-moderno a crueldade da natureza humana.

A natureza humana é basicamente o terreno de todo o desenvolvimento do homem. Conhece-la requer uma busca incessante para discernir amizades, se defender das incompatibilidades, assumir compromissos responsáveis, obter sucesso nos relacionamentos e propiciar o bem comum. Conhecer a natureza humana é conhecer a verdade da alma humana.

Dr. Inácio José do Vale

Psicanalista Clínico, PhD

Escritor e Conferencista

Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná

Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea/RJ. E da Ordem Nacional dos Psicanalistas/RJ.

  

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