quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

OS CONFLITOS DA FÉ EM DEUS

 

OS CONFLITOS DA FÉ EM DEUS

O triste diagnóstico do filósofo alemão Friedrich Nietzsche "Deus morreu". Essa é uma realidade para muitos que sepultaram tudo que é religioso e outros que são religiosos matam Deus todos os dias pelas obras que sepultam o Evangelho de Cristo. As representações de Deus são assassinadas e ressuscitadas na história e na vida de seres humanos. 

Os acontecimentos cruéis, crises de fé e conflitos individuais, problemas psicológicos cooperam para tal “crime” e muitas outras experiências positivas e abissais “ressuscitam” o Criador. Esse embate foi e sempre será atual e futurista. Tudo isso reflete também as fantasias, os desejos e as angústias humanas. Faz parte da existência humana a crença e a descrença, adorar o Senhor Deus ou qualquer coisa. 

Uma vez o grande pensador inglês G. K. Chesterton afirmou, a saber, que os homens que deixam de acreditar em Deus, em seguida e amiúde, acreditam seja no que for. Chesterton é conhecido como o "príncipe do paradoxo" pelo conteúdo argumentativo brilhante de sua obra. O poeta argentino Jorge Luis Borges afirmava: "Toda a boa literatura é uma forma de alegria, e nenhum autor me deu tantas alegrias quanto Chesterton".

As incompatibilidades advindas do abandono de Deus vemo-las, hoje, no fundamentalismo religioso e na política. Estes se tornaram mecanismos de cultura de morte. Quanto à rejeição de Deus é a conexão de tudo que é catastrófico para humanidade. Quem se divorcia de Deus coloca no lugar de Dele vários ídolos e a si próprio. Esse é o sucesso de muitas carnificinas no decorrer da história. Não a obediência das leis de Deus e sim as leis ditatórias do estado tornam-se legitimados toda atitude contra a dignidade da pessoa humana. Quem se livra de Deus e serve leis humanas, ídolos, a si mesmo, ideologia comunista e fanatismo religioso estão no caminho da destruição de muitas pessoas.

O abandono de Deus é, hoje, em não poucas pessoas devido o contratestemunho dos crentes. Muitos estão escandalizados com o clericalismo e com a prosperidade do poder eclesiástico. Há muitos infiéis na Igreja e muitos crentes fora dela. Santo Agostinho ensinava que muitos dos que julgam estar no seio da Igreja se encontram realmente fora dela, e também vice-versa. O teólogo russo Paul Evdokimov dizia que sabemos onde está a Igreja, mas não sabemos onde ela não está. As fronteiras reais da Igreja só Deus as conhecem com também seus amados filhos. A busca da vivência evangélica deve hoje ser uma provocação e incitar a uma reflexão mais profunda e à coragem de levantar questões da aceitação e rejeição da fé. 

Sem as dúvidas e sem as crises da fé, tal como ela se mostra na história, nas comunidades pobres e perseguidas, na beleza da arte, a minha vida seria muito miserável e sem nenhuma esperança. A luz do monte Tabor e as trevas do jardim de Getsêmani alternam-se na vida dos crentes e na história da Igreja e com frequência e regularidade. A experiência com Deus, com a vida, com a Igreja, com o mundo e com a sociedade é completada nos desafios da fé e razão, ciência e religião. A elegância do sagrado e o encanto da mística fascinam a nossa caminhada na pós-modernidade rumo à eternidade.

Tudo isso me impede de cair no pessimismo e me livra de todas as tendências destrutivas que há em nossa frente, me sustento no amor, na justiça e na graça do bom Deus, que são maravilhas de salvação nos seres humanos e de libertação social.

O ser humano foi criado com vontade, intelecto e alma, ensina Santo Tomás de Aquino. Todas precisam ser tratadas se queremos ajudar as pessoas a avançar na sua compreensão de Deus. Neste contexto, a palavra "compreensão" vai para além do puramente intelectual, envolvendo também o nosso lado mais emotivo. Só as palavras, ou só a lógica intelectual, ou só experiências emocionantes não são suficientes para colher algo do próprio ser de Deus. 

Por um lado, Deus não pode ser plenamente explicado e descrito através do nosso intelecto ou raciocínio intelectual. Ele permanece sempre um mistério inefável para nós, porque Deus é sempre maior, como declarou Santo Anselmo de Cantuária. “Os pensamentos de Deus ultrapassam os pensamentos humanos” (Is 55, 9).

É no colo de Deus e em seus abraços que temos razões e sensibilidades de viver com fé, amor e esperança. A nossa vida só tem sentido no porto seguro da graça do Pai Eterno da misericórdia.

Frei Inácio José do Vale

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