quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

VIVO, PORÉM MORTO

 

VIVO, PORÉM MORTO


Charles Augustin Sainte-Beuve, foi um grande escritor francês do século XIX, homem honrado por sua ciência, mas não crente, escreveu a um de seus amigos o seguinte:

“Sua carta me comoveu, mas frente a seus elogios continuo sentindo-me tão pouco assistindo com um olho contristado a morte do meu coração. Julgo-me e permaneço tranquilo, frio e indiferente. Estou como morto e me vejo morto sem que isso me comova e me perturbe de algum modo especial. De onde vem esse estranho estado? Esse último ponto, quero dizer, o coração é o que conta, e é o que está morto em mim. A inteligência resplandece nesse cemitério como uma lua morta”.


Ele incluiu em sua confissão como incrédulo, os dois lados possíveis acerca do estado duma pessoa. Um está bem vivo diante dos olhos do mundo, a inteligência está completamente aberta para as ciências, as artes, os lucros e os prazeres, mas o coração está morto. Assim é como aquele que não crê em Deus: acaba confirmando, por sua própria experiência, as declarações de Deus quando diz aos que vivem longe dEle: estais “mortos em ofensas e pecados” (Ef 2, 1).


Quantos teólogos, sacerdotes e influentes líderes religiosos cujos corações estão mortos. Pela aparência um belo ornamento, simpatia, intelectualidade, fama, poder, no entanto, o interior é um cemitério. Podem, enquanto vivos, despertar o entusiasmo e a admiração de seus contemporâneos e seguidores. Quem sabe, diante de seus túmulos se façam belos discursos, ostentação, elogios a seus talentos e virtudes e estátuas sejam erigidas para honrá-los.


Porém, tragados pela morte no umbral da eternidade não poderão entrar no reino dos céus, porque segundo as palavras de Jesus Cristo, “aquele que não nascer de novo... não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3,3-5). Disse Jesus: “Cuidado com os falsos profetas, que vem até vós vestidos de ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mt 7, 15).


Não existe um veneno pior para o coração do que a incredulidade, quanto ao religioso, junto com esse veneno a hipocrisia que faz dele um bom profissional do altar. Se você reconhece que até agora tem se alimentado desse veneno, ainda há tempo para obter a graça libertadora do Senhor bom Deus. Clame a Deus do modo como você se encontra. Faça como Saulo de Tarso: “Senhor, o que queres que eu faça”? (At 9, 5.6). Deus respondeu sua oração. Sem dúvida também responderá a sua, pois disse: “E dar-vos-ei um coração novo... e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ez 36, 26).


Não fácil romper com a incredulidade e a fantasia de bom religioso, já que conseguiu prestígio, cargos na hierarquia, muito dinheiro, amigos poderosos e prazeres que satisfaz a sua dupla personalidade. “Ninguém pode servir a dois senhores” (Lc 16,13). Todavia, de coração contrito buscando a misericórdia de Deus a encontrará... 


Frei Inácio José do Vale

Professor e Conferencista

Sociólogo em Ciência da Religião

Fraternidade do Bem-aventurado Charles de Foucauld

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