MARCAS DO NOSSO TEMPO
Com tantos aparatos e sozinho na multidão.
Muita informação e bastante descontextualização.
Solitário com som nos ouvidos
e com o barulho de muitas conversas
e ausente de tudo.
Ver tantas imagens e contemplar a escuridão.
Avança a ciência e o progresso tecnológico,
no entanto,
a ansiedade e o nervosismo tomam conta.
Mente programada para o consumismo e controlada ao abismo do individualismo.
Vive no espaço imenso, todavia, preso.
Com liberdade, porém, isolado.
Dorme na mesma cama,
com uma terrível solidão
e bem distante do outro.
Angústia amarga e a vaidade desenfreada caminham com os antidepressivos
não impedindo a perda dos mais próximos.
Palavras violentas, gestos agressivos,
escritos ameaçadores e convivência partida
são resultados da alma perturbada.
Culto ao corpo e vícios que desfiguram, mentem e acabam com tudo.
O prazer sem amor, amizade sem sinceridade, prática religiosa sem fé,
vida de comunidade com politicagem
e boçalidade com aparência de intelectualidade configuram em suicídio moral
e o físico em estado terminal.
Nada é sólido, profundo e duradouro
e sim a ditadura do virtual, parcial, superficial e infernal.
Marcas do nosso tempo, sentimento ao vento.
(Inácio José do Vale)
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