segunda-feira, 10 de abril de 2023

CARLOS DE FOUCAULD: O HOMEM E SUA OBRA

CARLOS DE FOUCAULD: O HOMEM E SUA OBRA

Carlos de Foucauld vem da alta burguesia francesa e se forma num ambiente intelectual e militar. Sua crise o leva a esbanjar fortunas em festas e diversões.

Sua conversão o leva a torna-se monge na Síria, jardineiro no Convento das Clarissas de Nazaré e, depois eremita no Deserto do Saara argelino, onde partilha toda a sua vida com a população nômade, desprezada, marginalizada, temida... Ali vive só, tratando com toda a sua vida de fazer amizade com os Tuaregues. Morre só, no entardecer do dia 1 de dezembro de 1916, abatido por um bando que rodeia a sua casa.

Ele tinha escrito: “Quando o grão de trigo caído na terra não morre, permanece só”. Se morrer, dá muito fruto. Eu não morri, também estou só... “Rezem por minha conversão, afim de que, morrendo, eu dê frutos”.

Hoje há 19 famílias religiosas que o assumiram como inspirador de sua vida, entre religiosas/os, leigos, fraternidades e movimentos na Igreja.

Por ter-se enamorado de Jesus de Nazaré, descobre que n’Ele Deus se perde, se esvazia, faz-se limitado como um homem, e como um homem pobre.

Sua conversão o leva a buscar incessantemente o Absoluto-Deus. Busca o mosteiro trapista, ou seja, monges cistercienses da estrita observância, busca ser eremita, busca o deserto... Nessa busca ele gira ao redor destas perguntas: que queres de mim? Como responder? Que devo fazer? E pouco a pouco vai descobrindo o Absoluto de Deus na carne humana de Jesus de Nazaré.

É uma descoberta esmagadora para ele, algo muito forte. Assim podemos entender o que significa para Ele “gritar o Evangelho com a vida”... Não há outra maneira de dizê-lo. Para ele, vida e missão coincidem...

Mas qual é o rosto de Deus que o seduz e o leva a viver com Jesus? Qual é a página do Evangelho que transforma e transtorna sua vida? Ele nos diz que é esta: “o que fizerem ao menor de meus irmãos, e mim o fizeram”. E continua dizendo: “Como não esforçar-nos para amar Jesus nos mais pobres?”.

Quer viver com eles relações de amizade, como irmão, como irmãozinho, próximo; e se dedicar a aprender o difícil idioma Tamanrasset para falar-lhes do Evangelho em sua própria língua, a querer aprende-lo principalmente para captar o que eles lhe têm que revelar de Deus (e os Tuaregues são muçulmanos!), convencido de que o outro vive e diz de Deus o que, a ele, lhe falta conhecer.

Não busca converter ninguém, sua tarefa consiste em converter-se, ele mesmo, a Jesus, que vive nos relegados e postergados, e por eles deixar-se evangelizar. Ele gosta de dizer: “os pobres são nossos mestres”...

A dimensão contemplativa que o irmão Charles não encontrou nos trapistas, nem se fazendo eremita, ele só a encontrou ao fazer-se “próximo do outro”, como consequência de suas longas horas de oração Eucarística. Às vezes pesamos que a contemplação só pode ser vivida nos mosteiros. Trata-se aí de uma maneira de empobrecer a contemplação. Para o irmão Charles essa contemplação o leva a meter-se no coração do mundo, por que é aí que encontra Deus. Mas isso não é evidente. Uma vida misturada com o povo pobre só se sustenta em longo prazo por gente mística, no sentido forte e profundo da palavra. E essa á a espiritualidade foucauldiana.

Essa proximidade do Senhor encarnado será a paixão do irmão Charles. É aí que ele vai aprendendo que Deus, só é Deus em Jesus de Nazaré como próximo, como pequeno e, portanto, ao contrário do que pensamos, ele se encontra onde nós não iríamos busca-lo. Para o irmão Charles a paixão por Deus e a paixão pelos irmãos são inseparáveis (2).

Conclusão

É muito diferente viver uma causa, defender a justiça, lutar pelos pobres ou estar com eles porque é o rosto de Deus. Não somos em primeiro lugar “atores sociais”, somos antes “irmãs” e “irmãos”, que querem aproximar-se das pessoas... O nosso testemunho diz tudo sobre a nossa vida, a nossa fé e a nossa missão.

Disse o irmão Charles de Foucauld: “Meus apostolado deve ser o da bondade”. Vendo-me, os outros poderão dizer: “Já que esse home e tão bom, sua religião deve ser boa” (3).

A nossa vida em Deus é o único testemunho que muitos encontram a eternidade. O fundamento da fé cristã é a prática autêntica no Evangelho de Cristo. É o projeto de Deus que faz a pessoa ser realizada na dimensão do amor. Num mundo com tantas incompatibilidades, a espiritualidade foucauldiana é um porto seguro para aqueles que desejam com profundidade caminhar com Jesus de Nazaré.

Pe. Inácio José do Vale Professor de História da Igreja Instituto de Teologia Bento XVI Sociólogo em Ciência da Religião Fraternidade Sacerdotal JesusCaritas.

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