domingo, 18 de junho de 2023

A PSICOLOGIA DOS SONHOS

 

A PSICOLOGIA DOS SONHOS



O sonho é uma experiência que possui explicações, fatores transcendentais e significados distintos no contexto da religião, da ciência e da cultura.

Para a ciência, é uma experiência de imaginação do inconsciente durante nosso período de sono. Para o neurologista austríaco e criador da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939), os sonhos noturnos são gerados, na busca pela realização de um desejo reprimido. Freud disse: “Sonhos é a via real para o conhecimento das atividades inconscientes”. 


Para o psiquiatra, psicanalista e fundador da psicologia analítica, o suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), baseado na observação dos seus pacientes e em experiências próprias, tornou mais abrangente o papel dos sonhos, que não seriam apenas reveladores de desejos ocultos, mas sim, uma ferramenta da psique que busca o equilíbrio por meio da compensação. Ou seja, alguém masculinizado pode sonhar com figuras femininas que tentam demonstrar ao sonhador a necessidade de uma mudança de atitude. Jung aponta os sonhos como forças naturais que auxiliam o ser humano no processo de individualização e são revestidos de poder revelador para quem sonha. 


Os neurocientistas, de modo geral, afirmam que o sonho é apenas uma espécie de tráfego de informação sem sentido que tem por função manter o cérebro em ordem. Essa teoria só não explica como esses enredos supostamente desconexos são responsáveis por grandes insights, como no inventor da lâmpada elétrica, o americano Thomas Edison (1847-1931), por exemplo. Existem muitos outros casos de sonhos reveladores em várias áreas da ciência e da arte, que todavia não impedem que os sonhos sirvam também para recuperar a saúde do organismo e do cérebro. 


Cientistas, filósofos e matemáticos como o francês René Descartes (1596-1650) e o químico alemão Friedrich August Kekulé von Stradonitz (1829-1896) também tiveram em sonhos visões reveladoras. Descartes, em viagem à Alemanha, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Kekulé propôs a fórmula hexagonal do benzeno após sonhar com uma cobra que mordia sua própria cauda. 


A oniromancia, previsão do futuro pela interpretação dos sonhos, tem grande credibilidade nas religiões judaico-cristãs: consta na Torá e na Bíblia Sagrada que Jacó, José e Daniel receberam de Deus a habilidade de interpretar os sonhos. No Novo Testamento, São José é avisado em sonho pelo anjo Gabriel de que sua esposa traz no ventre uma criança divina, e depois da visita dos Reis Magos um anjo em sonho o avisa para fugir para o Egito e quando seria seguro retornar a Israel. Na história de São Patrício, na Irlanda, também figura o sonho. Quando escravizado, Patrício em sonho é avisado de que um barco o espera para que retorne à sua terra natal. 


Os sonhos foram fontes de inspiração para importantes descobertas na ciência, na música, na arte. Estima-se que os sonhos tomem 25 % de nosso sono, considerando a média de duração de oito horas. Segundo pesquisas, eles aparecem como uma resposta do organismo às emoções muito intensas ou desafios. 


Segundo especialistas, os sonhos refletem também as informações guardadas no cérebro em longo prazo (memória e aprendizado). Na história temos relatos de grandes gênios da música, da ciência e da arte que se consagraram por descobertas inspiradas em sonhos. Vejamos: 


Paul McCartney 


Paul McCartney, músico inglês, em uma bela manhã do ano de 1964 acordou inspirado por um sonho e compôs a música “Yesterday”. Esse sucesso ficou na história e agora você já sabe que as notas do compositor foram retiradas da música que embalava seu sonho. 


Dmitri Mendeleev 


E não para por aí, o mesmo aconteceu com Dmitri Mendeleev (1834-1907), químico Russo que realizava estudos sobres os elementos químicos e suas propriedades. Uma noite do ano de 1869 inspirou a organização da Tabela Periódica, o cientista sonhou com um diagrama em que todos os componentes se encaixavam, e criou assim a Tabela Periódica moderna. Graças a Mendeleev os elementos foram organizados em períodos e famílias para facilitar seus estudos. 


Salvador Dali 


Na arte, o pintor espanhol surrealista Salvador Dali (1904-1989) teve todas as suas obras inspiradas em sonhos. Segundo o artista, é durante o sono que nos vemos libertos de nossa realidade. A obra de Dalí chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. 


Há um estreita relação entre as obras de Dali e Sigmund Freud, entre Surrealismo e Psicanálise. Dalí era um aficionado por Freud. Daí a estreita relação entre os trabalhos de Dalí e Freud. O trabalho de Freud influenciou e mudou para sempre a vida e as pinturas de Salvador Dalí, mesmo que não intencionalmente. 


Fatos psicológicos surpreendentes de sonhos. 


Apesar de estudados e analisados por muitos anos, os sonhos continuam sendo uma das experiências mais misteriosas de nossas vidas. Os sonhos são, em essência, uma sucessão de sensações, emoções, ideias e imagens que ocorrem involuntariamente na mente de uma pessoa enquanto ela dorme. Sabe-se que eles ocorrem principalmente (mas não exclusivamente) em um estágio do sono chamado estágio de Movimento Rápido dos Olhos (REM, em inglês), que se assemelha à vigília, pois, durante esse estágio, a atividade cerebral é alta. 


Os sonhos têm significado? Esta questão ocupou os seres humanos por séculos. Freud, acreditava que os sonhos são uma manifestação de nossas mais profundas ansiedades e desejos, frequentemente relacionados a obsessões ou memórias reprimidas da infância. Ele ficou tão fascinado com o tópico que publicou um livro chamado Interpretação dos Sonhos, em 4 de Novembro de 1899 (datado de 1900), no qual elaborou uma série de diretrizes para nos ajudar a entender os motivos e símbolos que aparecem em nossos sonhos. O livro marcou a virada entre os séculos XIX e XX, e foi o mais importante estudo psicanalítico de Freud. 


Embora a teoria freudiana sobre o significado dos sonhos seja popular, certamente não é a única por aí. As opiniões mudam através de culturas e épocas e, embora não seja realmente uma questão científica, muitos estudos concretos revelaram fatos fascinantes sobre o sonho. Segue alguns fatos psicológicos surpreendentes. 


1. Homens e mulheres sonham de maneira diferente 


Curiosamente, a pesquisa mostrou que existem diferenças distintas entre a fisiologia de homens e mulheres. Um estudo de 2008 mostrou que os sonhos dos homens tendem a ter conteúdo e atividade física mais agressivos, enquanto os sonhos das mulheres contêm mais rejeição e exclusão, além de mais conversa do que atividade física. Também se descobriu que as mulheres tinham sonhos um pouco mais longos, com mais personagens. Quando se trata de personagens que tendem a aparecer nos sonhos, 67% dos personagens nos sonhos dos homens são outros homens, enquanto 48% dos personagens nos sonhos das mulheres são outras mulheres. 


As razões para isso podem variar. Alguns psicólogos presumem que é porque homens e mulheres são socializados de maneira diferente à medida que crescem. Mas há muitas vozes que alegam evidências de que os meninos não precisam ser ensinados a serem agressivos e as meninas não precisam ser ensinadas a ser sociais. A biologia de meninos e meninas os impelem a esse tipo de trajetória de desenvolvimento. Embora as trajetórias não sejam inevitáveis ​​e determinísticas, são tendências reais. 


2. Sonhos realmente nos ajudam a resolver problemas 


Quando você está estudando para um exame ou lidando com algo difícil, você já ouviu o conselho 'durma'? É uma espécie de crença comum de que as coisas farão mais sentido em sua mente após uma boa noite de sono, e acontece que essa crença está realmente enraizada. 


Na tentativa de responder à sempre presente pergunta de por que sonhamos, a psicóloga de Harvard Deidre Barrett desenvolveu uma teoria peculiar. Ela descobriu que nossas horas de sono podem nos ajudar a resolver quebra-cabeças que nos atormentavam durante o dia. Os aspectos visuais e muitas vezes ilógicos dos sonhos os tornam perfeitos para o pensamento imediato que é necessário para resolver alguns problemas. "Seja qual for o estado em que estejamos inseridos, ainda estamos trabalhando nos mesmos problemas", disse ela. Ela acrescentou que, embora os sonhos provavelmente tenham evoluído originalmente para propósitos diferentes, eles evoluíram ao longo do tempo e foram refinados de uma maneira que ajuda o cérebro a se reiniciar e resolver problemas. 


3. Sonhos violentos podem ser um sinal de alerta 


Um estudo sugere que um distúrbio raro no qual as pessoas encenam seus sonhos, geralmente com violentos golpes, chutes e gritos, é um indicador precoce de distúrbios cerebrais, como Parkinson e demência. Os pesquisadores analisaram registros médicos para identificar os casos relatados desse distúrbio do REM de 2006 a 2009. Eles encontraram 27 pacientes que desenvolveram distúrbios do sono pelo menos 15 anos antes de apresentarem sintomas de doenças neurodegenerativas. 


O principal sintoma do distúrbio do sono REM é, como mencionado, o comportamento de encenação dos sonhos, que pode chegar ao ponto em que a pessoa machuca a si mesma ou a seu companheiro de cama. Quando a pessoa acorda, ela pode se lembrar vivamente do conteúdo violento do sonho correspondente ao chute ou ao golpe. 


4. Todos os rostos dos nossos sonhos foram vistos por nós 


Especialistas insistem que nossos cérebros são incapazes de inventar novos rostos em nossos sonhos. Isso significa que qualquer rosto que você veja nos seus sonhos, você já viu em algum lugar antes. No entanto, isso não significa que esses personagens dos sonhos sejam necessariamente pessoas que você conhece bem. Cada pessoa encontra constantemente rostos que o cérebro não registra como importante. Assim como "extras" em um programa de TV ou um estranho passageiro num ônibus ou trem podem aparecer em sonhos posteriores, mesmo que você não se lembre de tê-los visto antes. Muitos dos principais atores de nossos sonhos tendem a ser pessoas que conhecemos muito bem. Às vezes, o cérebro pode criar um estranho híbrido de familiar e não familiar. Por exemplo, você pode interagir com um amigo próximo em um sonho, mas, ao acordar, pode perceber que ele foi "interpretado" por uma pessoa com um rosto diferente. 


5. É possível controlar sonhos 


O sonho lúcido é um estado em que uma pessoa está ciente do fato de estar sonhando enquanto ainda está dormindo. É considerado uma combinação de consciência e REM, que permite ao sonhador controlar e direcionar o conteúdo do sonho. De acordo com uma pesquisa interessante feita por Jayne Gackenbach, psicóloga da Universidade Grant MacEwan, no Canadá, as pessoas que jogam videogame costumam ter mais chances do que os não-jogadores de ter sonhos lúcidos onde se veem fora de seus próprios corpos. Eles também foram mais capazes de influenciar o mundo dos seus sonhos como se controlassem um personagem de videogame. "Os jogadores estão acostumados a controlar seus ambientes de jogo, para que possam se transformar em sonhos", diz Gackenbach. 


6. Notívagos têm mais pesadelos 


Ficar acordado até tarde tem suas vantagens, mas também algumas desvantagens. Uma delas, aparentemente, é uma probabilidade aumentada de experimentar pesadelos. Pesquisa publicada em 2011 na revista "Sleep and Biological Rhythms", revelou que as pessoas que dormem tarde têm mais probabilidade de experimentar pesadelos do que seus contrapontos madrugadores. No estudo, foi solicitado a 264 estudantes universitários que classificassem com que frequência eles têm pesadelos em uma escala de 0 a 4 (0 significa 'nunca' enquanto 4 significa 'sempre'). Os participantes que tendem a ficar acordados até tarde pontuaram 2.10, enquanto os madrugadores tiveram uma média de 1.23. 


Esta é uma diferença significativa, de acordo com os pesquisadores. No entanto, eles não tinham certeza de qual é a causa. Entre suas especulações, está o hormônio do estresse cortisol, que atinge o pico de manhã logo antes de acordarmos, uma fase em que as pessoas têm mais tendência a ficar em sono REM ou a sonhar. Se você ainda está dormindo naquele momento, o aumento do cortisol pode desencadear sonhos ou pesadelos vívidos. 


Conclusão 


Ter disciplina no dormir, significa sonos maravilhosos e sonhos enriquecedores! Doutrinar a mente e o inconsciente, ou seja, diante dos olhos e dos ouvidos viver a contemplação das coisas belas e escutar coisas boas e sábias! Pautar a vida no conhecimento, na beleza da arte, na amizade intelectual e no toque que concede retorno para saúde física, emocional e mental. Dentro dessa configuração os sonhos serão ferramentas evolutivas para o bem-estar da saúde holística, profissional, econômica, sapiencial, sentimental, criativa e social. 


A psicologia dos sonhos leva o indivíduo a mergulhar na profundidade do seu interior. A psicologia faz despertar o que é mais íntimo do ser humano para suas realizações. Conhecer a dimensão do corpo, a libido, a funcionalidade do cérebro, a mente criativa conectadas aos sonhos e a intuição. Por mais conhecimento, sabedoria e humildade tem a felicidade de desfrutar da psicologia dos sonhos. 


Dr. Inácio José do Vale 

Psicanalista Clínico, PhD. 

Sociólogo em Ciências da Religião 

Qualificado em Psicologia Clínica e Educacional 

Professor de Psicanálise, Psicologia e Sociologia da Religião 

Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea/RJ. 

Autor do livro Terapia Psicanalítica: Demolindo a Ansiedade, a Depressão e a Posse da Saúde Física e Psicológica 

Fontes: 

https://www.tudoporemail.com.br/content.aspx?emailid=15850

https://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Dal%C3%AD 

SOUZA, Líria Alves de. "Sonhos e descobertas"; Brasil Escola. Disponível em:https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/sonhos-descobertas.htm. Acesso em 12 de agosto de 2020. 

FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1999. 

HALL, James. Jung e a interpretação dos sonhos. São Paulo: Cultrix, 1997.

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